Por que Tadej Pogačar ganhou 10 vezes mais que Kasia Niewiadoma no Tour de France?

Discrepância no Tour de France: Pogačar e Niewiadoma, mesma vitória, prêmios diferentes.

Kasia Niewiadoma Kasia Niewiadoma (crédito imagem SRAM)

Tadej Pogačar e Kasia Niewiadoma celebraram vitórias em edições distintas do Tour de France 2024, mas um detalhe chama a atenção e expõe uma desigualdade gritante no ciclismo profissional: a diferença entre as premiações dos vencedores masculino e feminino. 

A questão reflete um problema persistente na modalidade, que exige mais visibilidade e investimento para o ciclismo feminino.

O Contexto das Vitórias de Pogačar e Niewiadoma

Em julho, Tadej Pogačar (UAE Team Emirates) brilhou ao conquistar o Tour de France masculino em Nice, um dos feitos mais prestigiados do ciclismo mundial. 

Tadej Pogačar

Já no domingo seguinte, Kasia Niewiadoma (Canyon//SRAM) repetiu o gesto de comemoração ao vencer o Tour de France Femmes avec Zwift. Curiosamente, ambos os campeões competiram com o mesmo número: 11. Porém, a igualdade termina aí.

Enquanto Pogačar acumulou um valor total de premiações impressionante, o mesmo não se pode dizer de Niewiadoma, que recebeu prêmios drasticamente menores, mesmo em uma corrida que é considerada o auge do ciclismo feminino.

Comparando os Valores: Tour Masculino vs. Tour Feminino

Os números falam por si. Em 2024, o Tour de France masculino distribuiu uma premiação total de €2,4 milhões (US$ 2,66 milhões)

Somente Pogačar, o campeão, recebeu €500.000 (US$ 554.000), um valor que equivale ao dobro do montante total oferecido no Tour feminino.

Por outro lado, o Tour de France Femmes teve uma premiação total de €250.000 (US$ 277.000), com €50.000 (US$ 55.525) reservados para Niewiadoma, a vencedora geral.

A discrepância é ainda mais clara quando comparamos o ganho por quilômetro percorrido:

  • Tour masculino: €142,94 por km (US$ 158,74)
  • Tour feminino: €52,7 por km (US$ 58,52)

Mesmo com argumentos sobre a duração e história do Tour masculino, a diferença é tamanha que essas justificativas se tornam insustentáveis.

Premiações de Etapas e Classificações de Camisas

Além do prêmio principal, as premiações por vitórias de etapa também revelam a desigualdade.

Vitórias por etapa:

  • Tour masculino: €11.000 (US$ 12.215)
  • Tour feminino: €4.000 (US$ 4.442)

No final da competição, Pogačar acumulou aproximadamente €650.000 (US$ 721.831), enquanto Niewiadoma recebeu menos de um décimo desse valor.

Nas classificações de camisa, a diferença segue o mesmo padrão. A camisa verde de pontos foi vencida por Biniam Girmay (Intermarché-Wanty) no Tour masculino e por Marianne Vos (Visma-Lease a Bike) no Tour feminino:

  • Girmay: €25.000 (US$ 27.762) + €300 (US$ 333) por dia com a camisa.
  • Vos: €3.000 (US$ 3.331) + €100 (US$ 111) por dia com a camisa.

O mesmo ocorre com as classificações de montanha e de melhor jovem. Em todos os aspectos, os prêmios oferecidos às ciclistas femininas são mais de oito vezes menores.

O Impacto na Carreira das Ciclistas Femininas

A disparidade não é apenas simbólica, mas prática. Enquanto os ciclistas masculinos de elite conseguem viver exclusivamente do esporte, muitas ciclistas profissionais precisam trabalhar em empregos paralelos para manter vivos os sonhos de competição.

O Tour de France Femmes, embora seja um marco no ciclismo feminino, é um reflexo de como a categoria ainda é subvalorizada no mercado esportivo.

O Que Precisa Mudar?

A solução passa por maior visibilidade. Mais cobertura significa mais público, mais espectadores e, consequentemente, mais patrocinadores.

O ciclismo feminino tem talento, histórias e competições igualmente emocionantes. O que falta é o investimento necessário para que o esporte alcance a paridade. 

Outros esportes, como o tênis e o futebol feminino, mostraram que é possível reduzir essa diferença através de um esforço conjunto de federações, mídia e torcedores.

Conclusão: O Futuro do Ciclismo Feminino Exige Igualdade

Os números do Tour de France 2024 deixam claro que a desigualdade entre o ciclismo masculino e feminino é inaceitável. Enquanto Pogačar e Niewiadoma celebram vitórias históricas, o mercado precisa evoluir para que o reconhecimento financeiro acompanhe o talento e o esforço das atletas.

Mais visibilidade, cobertura e investimentos no ciclismo feminino são o caminho para corrigir essa injustiça histórica e inspirar uma nova geração de ciclistas em igualdade de condições.