Ciclistas de elite apresentam uma baixa densidade mineral óssea (alguns podem ter uma densidade óssea comparável à de uma pessoa de 70 anos), o que tem sido associado a um risco aumentado de fraturas em quedas e a uma maior probabilidade de desenvolver osteoporose na vida adulta.
No entanto, qual é a evidência de que há mais fraturas e de que esses efeitos são de longo prazo? Além disso, o que causa essa baixa densidade mineral óssea?
Luuk Hilkens foi o autor principal do artigo (1) que mostra que há evidências crescentes indicando que a maioria dos ciclistas de elite apresenta valores mais baixos de densidade mineral óssea em comparação com ciclistas não-elite (2).
➥ Causas
Primeiro, o ciclismo não é uma atividade de impacto e, portanto, não promove a carga mecânica do esqueleto. Essa carga é essencial para estimular o crescimento ósseo. No entanto, ciclistas de elite passam grande parte do dia na bicicleta (20–30 horas/semana) e o restante do tempo descansando e recuperando-se, com relativamente pouco caminhar e ainda menos corrida. Assim, o estímulo por meio da carga mecânica é mínimo.
Pode haver várias causas para essa observação, e é provável que vários fatores estejam envolvidos.
Um segundo fator é que muitos ciclistas têm preocupação com o peso e apresentam uma baixa porcentagem de gordura corporal. Na tentativa de reduzir ou manter um peso corporal baixo, eles podem apresentar baixa disponibilidade de energia, especialmente no nível de elite.
Baixa disponibilidade de energia é definida como a energia disponível para os processos básicos do corpo após subtrair o gasto energético do treino da ingestão energética. A formação óssea consome energia, e a baixa disponibilidade de energia significa que há menos energia disponível para a produção de ossos.
Outro fator pode ser o estresse crônico do treinamento. Em vez da disponibilidade de energia, pode ser a resposta ao estresse, as mudanças hormonais, a reação inflamatória, as citocinas circulantes ou outros fatores que interferem no crescimento normal dos ossos. No entanto, as evidências para isso ainda são limitadas.
➥ Mais fraturas?
Embora, em teoria, seja atraente pensar que ossos mais fortes resultam em menos fraturas ósseas, ainda não se sabe se isso é realmente verdade. No ciclismo, quase todas as fraturas são resultado de quedas. De fato, essa foi a causa mais comum de abandono do Tour de France entre 2010 e 2017.
Essas quedas, no entanto, são inerentes às corridas de ciclismo, e não sabemos se ossos mais fortes reduziriam o risco de fraturas causadas por quedas. Simplesmente ainda não existem evidências sobre isso.
Fraturas por quedas foram a causa mais comum de abandono do Tour de France entre 2010 e 2017.
➥ Problemas mais tarde na vida?
No entanto, a progressão e/ou regressão do status ósseo comprometido durante e após a carreira ativa dos ciclistas ainda precisa ser estabelecida, e não há evidências (nem mesmo anecdóticas) que indiquem uma maior prevalência de fraturas ósseas em ciclistas de elite aposentados.
➥ O que podemos fazer a respeito?
Treinamento com exercícios de resistência e atividades de impacto (como pular ou saltos) são geralmente recomendados como estratégias eficazes para aumentar a densidade mineral óssea (DMO). No entanto, não sabemos se essas práticas seriam eficazes para ciclistas e o quanto isso interferiria no treinamento regular deles.
Isso dependerá em grande parte de quanto treinamento adicional seria necessário para alcançar uma mudança significativa, e a resposta para essa questão ainda é desconhecida (especialmente nesta população).
Consumir energia suficiente (kcal), cálcio, vitamina D e proteína está entre os principais fatores nutricionais que devem ser considerados.
A suplementação de colágeno (em combinação com exercícios de impacto) também foi sugerida como uma estratégia, e há algumas evidências de que isso pode ser eficaz. No entanto, não se sabe se isso é mais eficaz do que um aumento correspondente na ingestão de proteínas.
Uma intervenção padrão que funcione para essa população ainda é desconhecida, e pesquisas precisam abordar essa questão nos próximos anos.
Consumir energia suficiente (kcal), cálcio, vitamina D e proteína está entre os principais fatores nutricionais que devem ser considerados.
➥ Devemos tratar isso?
Talvez a questão mais controversa seja: devemos tratar essa condição? Quais são as evidências de que há consequências de longo prazo para esses atletas? Existe alguma evidência de que eles sofrem mais fraturas? Citamos o artigo:
“A resposta à pergunta se a baixa densidade mineral óssea em ciclistas de elite deve ser tratada pode não ser tão clara quanto se pensava inicialmente. Claro, é preocupante que ciclistas de elite apresentem baixa massa óssea em uma idade em que o pico de massa óssea normalmente é alcançado. No entanto, as potenciais consequências de curto e longo prazo de uma saúde óssea comprometida, em termos de saúde e desempenho, não estão claras nessa população específica. Embora a densidade mineral óssea geralmente possa ser aumentada com exercícios e/ou intervenções nutricionais, a viabilidade, a eficácia e os possíveis efeitos colaterais dessas intervenções ainda precisam ser estabelecidos nesta população."
➥ Próximos passos
Como próximo passo, são necessárias pesquisas para determinar se ex-ciclistas profissionais ainda apresentam baixa densidade mineral óssea e/ou sofrem mais fraturas ósseas.
É essencial que ciclistas e as equipes que trabalham nesse esporte estejam cientes dessas questões, monitorem o status da densidade óssea e garantam práticas nutricionais adequadas.
Referências
- Hilkens L, Knuiman P, Heijboer M, Robert Kempers, Jeukendrup AE, van Loon LJC, e van Dijk J-W. Ossos frágeis de ciclistas de elite: tratar ou não tratar? J Appl Physiol 2021.
- Mojock CD, Ormsbee MJ, Kim JS, Arjmandi BH, Louw GA, Contreras RJ, e Panton LB. Comparações da densidade mineral óssea entre ciclistas recreativos e ciclistas de estrada treinados. Clin J Sport Med 26: 152-156, 2016.