Os suplementos de éster de cetona continuam a atrair a atenção dos atletas devido ao seu potencial alegado de melhorar o desempenho em exercícios de resistência.
O interesse por esses suplementos decorre da possibilidade de consumi-los e induzir rapidamente a cetose (altos níveis de corpos cetônicos no sangue) sem a necessidade de restringir carboidratos na dieta (como seguir uma dieta cetogênica).
Está cada vez mais claro que os suplementos de cetona influenciam as respostas ao exercício, no entanto, os cientistas ainda não compreendem totalmente como isso ocorre.
➥ Resultados mistos dos suplementos de cetona no desempenho
Pesquisas anteriores sobre suplementos de cetona já analisaram seus efeitos na economia de glicogênio, no uso das cetonas como combustível metabólico e na recuperação após o exercício.
Este artigo abordará um estudo recente liderado por McCarthy e colegas da Universidade McMaster, no Canadá, que tentou esclarecer se o consumo de um éster de cetona antes de um teste de desempenho poderia, de fato, influenciar o desempenho no ciclismo.
A expectativa em torno dos suplementos de cetona surgiu de um estudo publicado em 2016, que analisou os efeitos do consumo de um suplemento de cetona recentemente desenvolvido (chamado monoéster de cetona) antes de uma sessão de ciclismo de 1 hora, seguida de um teste contrarrelógio de 30 minutos.
Esse estudo relatou uma melhoria de aproximadamente 2% no desempenho do contrarrelógio após o consumo do éster de cetona, em comparação com uma bebida placebo. Desde então, vários estudos investigaram os efeitos dos suplementos de cetona no desempenho, com resultados mistos.
Alguns estudos até relataram que o desempenho de resistência foi prejudicado quando os atletas usaram o suplemento de cetona antes do teste.
Alguns autores sugeriram que as diferenças nos resultados de desempenho podem estar relacionadas ao tipo de suplemento de cetona utilizado.
Os monoésteres de cetona poderiam melhorar o desempenho, enquanto os diesteres e sais de cetona poderiam causar desconforto gastrointestinal (GI) e reduzir o desempenho.
Outros pesquisadores especularam que a dosagem do suplemento também é crucial – doses muito baixas não teriam efeito, enquanto doses muito altas poderiam trazer consequências que anulam os benefícios.
➥ Novo estudo sobre suplementos de cetona
Esses dois fatores – tipo e dose do suplemento – foram considerados no novo estudo de McCarthy et al. No experimento, ciclistas treinados ingeriram o suplemento correto (monoéster de cetona) em uma dose adequada, nem muito baixa nem muito alta.
- O estudo foi projetado de forma simples: os participantes chegaram ao laboratório após consumirem a alimentação habitual antes desse tipo de teste de desempenho, ingeriram uma dose específica do suplemento de cetona ou um placebo com sabor idêntico, esperaram 30 minutos para a digestão, realizaram o aquecimento e, em seguida, um teste contrarrelógio de 20 minutos em um cicloergômetro.
O teste de 20 minutos é altamente preditivo da potência de limiar funcional, uma métrica importante de desempenho no ciclismo. Nem os participantes nem os pesquisadores sabiam qual bebida foi ingerida em cada dia de teste.
Uma amostra de sangue coletada antes do teste confirmou que os níveis de corpos cetônicos no sangue estavam dentro da faixa considerada ideal – suficientemente altos, mas não excessivos. Um questionário mostrou que os sintomas gastrointestinais foram mínimos.
No entanto, os participantes tiveram um desempenho aproximadamente 2% pior no dia em que consumiram o suplemento de cetona em comparação com o dia em que ingeriram o placebo. Em outras palavras, os atletas tiveram um melhor desempenho com a bebida placebo.
➥ Explicações possíveis para o pior desempenho com os suplementos de cetona
Os cientistas ainda não sabem exatamente por que os suplementos de monoéster de cetona podem prejudicar o desempenho em determinados testes de ciclismo. Uma possibilidade é que o equilíbrio ácido-base do sangue seja alterado pelo consumo do suplemento, um efeito que há muito tempo é associado ao desempenho atlético.
Outra hipótese é que os suplementos de cetona aumentem a percepção de esforço e a frequência cardíaca para uma determinada carga de trabalho no ciclismo.
Outro fator importante a ser considerado é o tipo de teste de desempenho. O estudo analisado mostrou que o desempenho foi pior em um teste de curta duração e alta intensidade, mas isso não exclui possíveis benefícios em eventos de longa duração e menor intensidade.
Ainda não se sabe como os suplementos de cetona afetam esses tipos de testes, mas estudos futuros podem abordar essa questão.
Além disso, o momento da ingestão do suplemento – antes ou depois do exercício – também é relevante. Dados recentes sugerem que o maior benefício desses suplementos pode ocorrer quando consumidos após exercícios intensos, para a recuperação, ou durante a exposição a ambientes com baixo teor de oxigênio, como em altitudes elevadas.
➥ Conclusão
Em resumo, o estudo de McCarthy et al. forneceu evidências claras de que a ingestão do suplemento de monoéster de cetona não beneficiou ciclistas durante um teste contrarrelógio de 20 minutos.
No entanto, a história dos suplementos de cetona exógena ainda está em desenvolvimento, e há muitos contextos emergentes e interessantes nos quais esses suplementos podem ser utilizados.
