Entenda por que a análise do sangue é fundamental para a saúde e o desempenho, além dos principais aspectos a serem observados.
Monitorar os biomarcadores sanguíneos pode parecer uma prática reservada aos atletas de elite, mas baixos níveis de vitaminas e minerais são frequentes até mesmo entre os amadores e podem impactar negativamente o desempenho.
Com a aproximação dos longos dias de treinamento, este é o momento ideal para realizar seus exames de sangue de forma preventiva – você pode até já estar atrasado na marcação do seu.Introdução aos Exames de Sangue
O Dr. Stephen Cheung, já abordou anteriormente os impactos da doação de sangue e do treinamento. Agora, vamos explorar como a composição do seu sangue pode influenciar seu desempenho no ciclismo.
Testes bioquímicos e hematológicos oferecem informações valiosas sobre a capacidade do seu corpo de equilibrar o treinamento e a recuperação, além de sinalizar quando algo não está funcionando corretamente.
No entanto, muitos atletas enfrentam o problema de simplesmente não realizarem os exames. Testes isolados, arbitrários ou inconsistentes fornecem dados limitados e dificultam a interpretação, uma vez que os valores normais de sangue variam entre não-atletas e atletas, entre modalidades esportivas e até mesmo entre diferentes etnias e gêneros. Se algum nível de vitamina ou mineral estiver fora do ideal, a correção pode levar semanas ou meses.
Deficiências Comuns de Vitaminas
Os atletas muitas vezes não percebem nenhum sintoma até que a saúde celular comece a se deteriorar. Deficiências de vitaminas e minerais são comuns, especialmente com o aumento do estresse metabólico, do volume de treinamento ou quando há comprometimento do sono, estresse diário e hábitos alimentares inadequados.
Problemas frequentes envolvem deficiências de ferro, vitamina D, ômega-3, folato, B-12, magnésio e cálcio. Entre os atletas de resistência, as questões relacionadas ao ferro e à vitamina D são particularmente prevalentes e problemáticas, o que nos leva a aprofundar esses dois nutrientes.
Ferro
O ferro é fundamental na produção de energia, pois participa do transporte e utilização do oxigênio. Ele compõe a hemoglobina dos glóbulos vermelhos, responsável por levar oxigênio aos músculos durante o exercício, e também auxilia na produção de energia pelas mitocôndrias.
A deficiência de ferro – seja por níveis baixos ou por deficiência propriamente dita – pode desencadear diversos efeitos negativos para a saúde e o desempenho. Entre os sintomas, destacam-se tontura, sensação de desmaio, falta de ar, redução do desempenho aeróbico, menor tempo até a exaustão, aumento da percepção de esforço e diminuição do VO2max.
Vale destacar que os valores biológicos padrão para o ferro, assim como para outras vitaminas e minerais, são baseados em amostras da população geral e não contemplam as necessidades específicas dos atletas. Mesmo aqueles que consomem a quantidade recomendada de ferro (13–18 mg/dia) podem desenvolver deficiência por fatores que esgotam suas reservas.
Fatores que Influenciam o Status do Ferro
- Menstruação: perda de sangue mensal.
- Ingestão alimentar inadequada: consumo insuficiente na dieta.
- Sangramento gastrointestinal induzido pelo exercício.
- Perda de sangue na urina (hematúria).
- Transpiração: a perda de ferro pode ocorrer durante exercícios intensos.
- Inflamação induzida pelo exercício: diminui a absorção do ferro.
- Impactos repetitivos, como os causados pelo choque dos pés, que podem destruir glóbulos vermelhos.
- Pressão intramuscular elevada, comum em nadadores e ciclistas.
- Carga mecânica elevada associada à liberação de hepcidina devido à inflamação subclínica relacionada ao exercício.
Considerações para a Suplementação do Ferro
Para garantir resultados precisos, é essencial manter condições consistentes e controladas durante a coleta. Idealmente, os exames devem ser realizados pela manhã, estando o indivíduo bem hidratado, sem treinamento intenso ou prolongado nas 24 horas anteriores e sem atividades de levantamento pesado ou cargas excêntricas 2–3 dias antes.
No mínimo, os testes devem incluir medições de ferro, capacidade de ligação do ferro, saturação de transferrina e níveis de ferritina. Se possível, avaliações adicionais, como o receptor solúvel de transferrina, massa de hemoglobina e proteína C-reativa, podem ser realizadas, embora normalmente representem custos extras.
É importante lembrar que, com base nos resultados dos exames, pode ser necessário ajustar a nutrição ou incluir suplementação. Entretanto, a suplementação indiscriminada antes dos testes não é recomendada, pois pode ser perigosa ou contraindicada em certas condições de saúde ou em interação com medicamentos.
A orientação de um nutricionista esportivo e de um médico é fundamental para interpretar corretamente os resultados e definir a melhor conduta.
Vitamina D
Conhecida como a “vitamina do sol” devido à sua síntese a partir dos raios UVB, a vitamina D é crucial para a saúde óssea, a função muscular e o suporte imunológico, todos essenciais para o desempenho e a recuperação.
Além disso, ela regula minerais envolvidos no metabolismo ósseo, como cálcio e fósforo, e fortalece o sistema imunológico, ajudando os atletas a evitarem doenças.
Estudos indicam que a prevalência de níveis baixos ou deficientes de vitamina D é alta – podendo variar de 44% a 67% ou mais, dependendo de diversos fatores.
Fatores que Influenciam o Status da Vitamina D
- Envelhecimento: a síntese diminui com a idade.
- Pigmentação da pele: altos níveis de melanina reduzem a absorção dos raios UVB.
- Gordura corporal: o excesso de gordura armazena vitamina D, diminuindo sua disponibilidade.
- Protetor solar: uso de FPS alto pode reduzir a capacidade de síntese em mais de 90%.
- Vestuário: tecidos que bloqueiam os raios UV inibem a exposição.
- Poluição e nuvens: o ozônio e os poluentes absorvem os raios UVB.
- Horário: nas primeiras horas da manhã e no final da tarde, os níveis de UVB são insuficientes.
- Latitude: locais acima de 35° N ou S têm síntese reduzida, principalmente no inverno.
- Exposição solar limitada: reduz a produção de vitamina D.
- Genética: certas variações genéticas podem afetar a ligação ou a resposta aos suplementos.
Considerações para a Suplementação da Vitamina D
Durante o verão, os níveis de vitamina D podem se manter adequados, dependendo do vestuário, do uso de equipamentos de proteção, do protetor solar e do tempo de exposição ao sol. Atletas de pele mais escura podem apresentar níveis mais baixos sem comprometer a densidade mineral óssea.
Assim, a suplementação pode ser necessária apenas quando os fatores de risco estiverem elevados, como durante o inverno ou em determinadas latitudes.
Assim como no caso do ferro, a resposta à suplementação da vitamina D dependerá dos níveis iniciais e da dosagem administrada, podendo levar de 6 a 12 semanas para a normalização. Em alguns casos, doses elevadas podem ser prescritas semanal ou mensalmente, enquanto em outros um suplemento vendido sem receita pode ser suficiente.
Contudo, o excesso pode reduzir os níveis da vitamina D e até ser tóxico, por isso é fundamental que o tempo e a dose sejam orientados por exames de sangue e acompanhamento profissional.
Implementando um Plano de Ação
Embora o ferro e a vitamina D sejam as deficiências mais comuns, muitos atletas também enfrentam desafios decorrentes de dietas inadequadas, baixa ingestão calórica, pouca variedade, alergias alimentares, problemas de absorção por doenças e consumo insuficiente de micronutrientes – fatores que frequentemente originam essas deficiências.
Contar com a orientação de um profissional pode ajudar a superar esses obstáculos, tornando as escolhas de nutrição mais assertivas e sustentáveis.
Para monitorar tanto os exames de sangue quanto a qualidade da nutrição, é importante estabelecer uma rotina de testes. Períodos de transição, como a passagem da entressafra para o treinamento básico ou do treinamento básico para a temporada de competições, são momentos ideais para realizar as verificações.
Dessa forma, é possível agendar de duas a três avaliações anuais para corrigir eventuais desequilíbrios e ajustar a nutrição conforme o foco do treinamento.
Os exames de sangue para ciclistas podem ser organizados através do seu médico ou diretamente por empresas especializadas. Consultar um médico aliado a um nutricionista esportivo – preferencialmente um Especialista Certificado em Dietética Esportiva (CSSD) – assegura que os testes e as medidas subsequentes sejam eficazes e seguros.
Esta abordagem integrada ajuda a garantir que o seu treinamento seja acompanhado de uma saúde ótima, promovendo não apenas um melhor desempenho no ciclismo, mas também uma qualidade de vida superior.
Perguntas Frequentes - FAQ
Pergunta 1: Quais exames de sangue são importantes para atletas?
Para atletas, a avaliação laboratorial é fundamental para monitorar o desempenho, a recuperação e a saúde geral. Os principais exames incluem:
- Hemograma Completo: Analisa hemácias, hemoglobina e hematócrito, essenciais para o transporte de oxigênio, além de leucócitos e plaquetas, que podem indicar processos inflamatórios ou infecciosos.
- Perfil Bioquímico: Inclui dosagens de glicose, ureia, creatinina e eletrólitos (sódio, potássio, cloro), úteis para avaliar a função renal e o equilíbrio hidroeletrolítico.
- Perfil Lipídico: Mede colesterol total, LDL, HDL e triglicerídeos, auxiliando na avaliação do risco cardiovascular.
- Marcadores Inflamatórios: Como a proteína C reativa (PCR), que pode evidenciar inflamação sistêmica decorrente do esforço físico.
- Estudos de Ferro: Ferritina, ferro sérico e capacidade de ligação do ferro (TIBC) são importantes para identificar anemia ou sobrecarga de ferro, que podem comprometer o desempenho.
- Níveis de Vitamina D e Outros Micronutrientes: Essenciais para a manutenção da saúde óssea e muscular.
Pergunta 2: Quais exames são necessários para ciclistas?
Ciclistas submetem-se a esforços prolongados e intensos, exigindo uma avaliação específica. Entre os exames recomendados estão:
- Hemograma Completo: Garante que não haja anemia, condição que compromete a capacidade aeróbica e a performance.
- Perfil Bioquímico: Avalia a função renal, hepática e o equilíbrio de eletrólitos, que podem ser afetados pelo estresse do exercício prolongado.
- Perfil Lipídico e Glicemia: Monitoram o metabolismo energético e o risco cardiovascular, aspectos importantes em modalidades de resistência.
- Marcadores Inflamatórios e Oxidativos: A PCR e outros marcadores podem ajudar a detectar processos inflamatórios decorrentes do treinamento intenso.
- Avaliação Hormonal (quando indicado): Testes de cortisol e testosterona podem auxiliar no monitoramento da resposta ao estresse físico e na recuperação.
Pergunta 3: Quais exames laboratoriais avaliam o sistema circulatório?
A saúde do sistema circulatório pode ser avaliada por meio de diversos exames que verificam o estado dos lipídios, a presença de inflamação e a coagulação sanguínea, entre outros:
- Perfil Lipídico: Inclui a dosagem de colesterol total, LDL, HDL e triglicerídeos, fundamentais para a avaliação do risco de aterosclerose.
- Glicemia e Hemoglobina Glicada (HbA1c): Indicadores importantes para o controle glicêmico e que influenciam a saúde vascular.
- Marcadores Inflamatórios: A PCR e, eventualmente, a velocidade de hemossedimentação (VHS) ajudam a identificar processos inflamatórios crônicos que podem afetar os vasos sanguíneos.
- Hemograma Completo: Pode revelar condições como anemia ou policitemia, que influenciam a viscosidade e a circulação do sangue.
- Exames de Coagulação: Testes como tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) e fibrinogênio são úteis para avaliar o risco de eventos tromboembólicos.
- Marcadores Cardíacos (em contextos específicos): Troponinas, BNP ou NT-proBNP podem ser usados para investigar disfunções cardíacas.
Pergunta 4: Quais são os exames de hormônios masculinos?
A avaliação hormonal masculina é importante para diagnosticar desequilíbrios que podem afetar o desempenho e a saúde geral. Os exames mais comuns incluem:
- Testosterona Total e Livre: Essenciais para avaliar a disponibilidade do hormônio ativo.
- Hormônio Luteinizante (LH) e Hormônio Folículo-Estimulante (FSH): Avaliam o funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal.
- Estradiol: Mesmo em homens, níveis inadequados podem indicar desequilíbrios hormonais.
- SHBG (Globulina de Ligação a Hormônios Sexuais): Determina a fração de testosterona livre e, portanto, a atividade biológica do hormônio.
- Outros Hormônios (conforme indicação clínica): Em alguns casos, pode ser necessário avaliar DHEA-S ou prolactina.
Pergunta 5: Quais são os principais exames bioquímicos usados para analisar o sangue?
Os exames bioquímicos fornecem uma visão ampla do estado metabólico e funcional do organismo. Entre os principais, destacam-se:
- Glicose: Avalia o metabolismo energético e o controle da glicemia.
- Ureia e Creatinina: Indicadores da função renal.
- Eletrólitos: Sódio, potássio, cloro, cálcio e magnésio, fundamentais para o equilíbrio hidroeletrolítico.
- Enzimas Hepáticas: AST (TGO), ALT (TGP), GGT, fosfatase alcalina e bilirrubinas, que ajudam a avaliar a função do fígado.
- Perfil Lipídico: Inclui colesterol total, LDL, HDL e triglicerídeos, importantes para a saúde cardiovascular.
- Proteínas Totais e Albumina: Indicadores do estado nutricional e da função hepática.
- Marcadores Inflamatórios: PCR e, eventualmente, ferritina, que podem apontar processos inflamatórios e alterações no estado do ferro.
Pergunta 6: Como é feito o exame antidoping em atletas?
O exame antidoping é um procedimento rigoroso que envolve várias etapas para assegurar a integridade e a confiabilidade dos resultados:
- Coleta de Amostras: Geralmente, a coleta é realizada de urina; em alguns casos, pode envolver sangue. A amostra é colhida em ambiente controlado, sob supervisão, para garantir que não haja adulterações.
- Encaminhamento a Laboratórios Acreditados: As amostras são enviadas para laboratórios credenciados pela Agência Mundial Antidoping (WADA), que utilizam métodos analíticos avançados.
- Análise Técnica: São empregadas técnicas como cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas (LC-MS/MS) e métodos imunológicos para detectar substâncias proibidas ou seus metabólitos.
- Controle de Qualidade: Todo o processo segue protocolos rigorosos de cadeia de custódia e verificação, assegurando a precisão dos resultados.
- Interpretação dos Resultados: Se uma substância for detectada acima do limite permitido, o resultado é classificado como positivo, e o atleta pode ser sujeito a sanções conforme as normas antidoping.
Pergunta 7: Qual exame de sangue não pode treinar antes?
Alguns exames de sangue podem apresentar resultados alterados se a coleta for realizada logo após atividade física intensa. É importante que o atleta esteja em repouso para evitar interferências. Em especial:
- Enzimas Musculares: Como a creatina quinase (CK), que tende a se elevar após exercícios intensos devido à lesão muscular transitória.
- Marcadores de Estresse e Inflamação: Hormônios como o cortisol e marcadores inflamatórios (por exemplo, PCR) podem estar elevados após sessões de treinamento vigoroso.
Recomendação: Evitar atividades físicas intensas nas 24 a 48 horas que antecedem a coleta pode minimizar a interferência nos resultados desses exames, proporcionando uma avaliação mais acurada do estado basal do organismo.