Hinault: “Pogacar é o único que se aproxima de Merckx e de mim, mas ainda falta para ser o melhor de todos os tempos”
Bernard Hinault conversou com o site Marca.com durante o lançamento do Super Mundial de Ciclismo 2027 em Sallanches.
No evento de apresentação do Super Mundial de Ciclismo 2027 em Sallanches, Hinault avaliou o momento atual do pelotão e relembrou as histórias que viveu nas mesmas estradas. Em bate‑papo com a MARCA, o pentacampeão do Tour de France explicou por que, apesar das evoluções técnicas e táticas, o coração dos grandes campeões permanece inalterado.
Hinault, memória viva do Mundial
Poucos minutos antes da entrevista, Hinault já havia vencido a Col de Domancy — a mesma montanha onde sagrou‑se campeão mundial em 1980. Depois de encarar uma dura prova de gravel e rodar vários quilômetros pela Alta Sabóia, subiu imediatamente na bike para estudar o circuito que reviverá, em 2027, aquele Mundial histórico.
Pergunta: Como o senhor compara o Campeonato Mundial de 1980 com o ciclismo de hoje?
Resposta: Mudou absolutamente tudo, então fica difícil estabelecer uma comparação justa. As rotas são diferentes, as condições técnicas evoluíram e o pelotão atual tem características distintas. Por isso, não ousaria equiparar os dois.
Pergunta: Se tivesse de se medir contra Eddy Merckx no auge, o senhor acha que teria vencido?
Resposta: Correriamos juntos, mas ele já estava no fim da carreira e eu no começo. Nunca chegamos a nos enfrentar quando ambos estávamos no auge. Por isso, qualquer comparação seria mera especulação.
Pergunta: Quem foi seu maior rival: LeMond, Fignon ou outro ciclista?
Resposta: Foi um grupo amplo. Na Itália havia Moser e Saronni; na Bélgica, Merckx, Godefroot e Verbeeck; na Holanda, Haas e Knetemann; e por aí vai. Cada país tinha seus campeões locais, e ninguém dava mole. Dizer quem foi o “maior” é quase impossível.
Pergunta: O senhor se arrepende de ter ajudado Greg LeMond no Tour de France?
Resposta: Nunca me arrependi. Dei minha palavra e cumpri até o fim. Acho que honra e lealdade falam por si só — não vejo motivo para voltar atrás.
Pergunta: Pogacar está realmente a caminho de se tornar o melhor ciclista da história?
Resposta: Hoje ele é o melhor do mundo, mas isso não o torna automaticamente o maior de todos os tempos. Venceu três Tours, mas Merckx levou cinco Tours, cinco Giros e um Vuelta, além de somar o maior número de clássicas. Só saberemos se Pogacar alcançará esse nível após o término da carreira dele.
Pergunta: O senhor já chamou a Paris‑Roubaix de “corrida de m…” — continua pensando assim?
Resposta: Sim e não. Para quem ama Paris‑Roubaix, é um espetáculo. Para corredores como Van der Poel e Pedersen, é um desafio empolgante. Mas, para mim, que priorizava o Tour de France, uma queda ali podia comprometer toda a temporada. Se eu não tivesse chances no Tour, talvez a tivesse aproveitado mais.
Pergunta: Entre Indurain e Hinault, com quem o senhor fica?
Resposta: São perfis diferentes. Indurain era especialista em Grandes Voltas e disputava poucas clássicas. Eu fiz de tudo: clássicas, etapas de montanha, contrarrelógios e Grand Tours. Essa é a principal diferença.
Pergunta: E na comparação direta: Pogacar ou Hinault?
Resposta: Nosso estilo é parecido — ambos corremos clássicas e Voltas Grandes. Pogacar está mais próximo de nós porque compete o ano todo: faz as clássicas no início, as Grandes Voltas e ainda retorna às clássicas no fim da temporada.
Pergunta: Para encerrar, Merckx ou Hinault?
Resposta: Sempre direi que Merckx é superior. Ele conquistou uma Grande Volta a mais e venceu mais clássicas do que eu.