No mundo do ciclismo profissional, existem momentos que transcendem o esporte e se transformam em capítulos inesquecíveis da história. Estamos prestes a testemunhar um desses raros momentos nas colinas das Ardenas, onde dois gigantes do ciclismo moderno se encontrarão em um confronto que promete eletrizantes batalhas e performances extraordinárias.
De um lado, Tadej Pogačar, o fenômeno esloveno e atual campeão mundial, que busca um feito alcançado apenas duas vezes na história: conquistar a tripla coroa das Ardenas. Do outro, Remco Evenepoel, o campeão olímpico belga que retorna triunfalmente após 188 dias afastado devido a graves lesões.
Este não é apenas mais um confronto entre dois ciclistas talentosos. É o encontro entre dois atletas que definem uma geração, cada um carregando símbolos máximos do ciclismo mundial - o arco-íris do campeão mundial no peito de Pogačar e o ouro olímpico que Evenepoel conquistou com maestria. As colinas das Ardenas, com suas subidas íngremes e descidas técnicas, servirão como o palco perfeito para este duelo de titãs que pode reescrever os livros de história do ciclismo.
O cenário não poderia ser mais dramático. Até sexta-feira passada, o mundo do ciclismo já se preparava para ver Pogačar dominar as três clássicas das Ardenas - Amstel Gold Race, La Flèche Wallonne e Liège-Bastogne-Liège - completando uma tripla histórica que apenas Davide Rebellin (2004) e Philippe Gilbert (2011) conseguiram anteriormente. O esloveno, após impressionar no Paris-Roubaix, na Tour de Flandrers e na Milan-San Remo, parecia ter caminho livre para mais um feito extraordinário.
Mas então, como um relâmpago dourado, Remco Evenepoel ressurgiu. Após quase seis meses de recuperação de um acidente onde foi atingido por uma porta de carro, destruindo seu ombro entre outras lesões, o belga retornou às competições na Brabantse Pijl e imediatamente mostrou que não veio apenas participar.
Em uma performance que deixou o mundo do ciclismo boquiaberto, Evenepoel não apenas acompanhou Wout van Aert nas subidas mais desafiadoras, como o derrotou no sprint final, anunciando ao mundo que estava de volta - e pronto para desafiar o aparentemente invencível Pogačar.
"Ele é provavelmente o melhor ciclista desde Merckx, então cabe a nós caçar essa posição", declarou Evenepoel sobre seu rival, em uma frase que resume perfeitamente o que está em jogo nestas três corridas. Não é apenas sobre vencer corridas; é sobre estabelecer hierarquias, definir legados e, talvez, iniciar uma rivalidade que pode dominar o ciclismo pelos próximos anos.
As Ardenas, com seu terreno acidentado e clima imprevisível, serão o juiz perfeito para este confronto. Enquanto Pogačar busca entrar para um clube exclusivíssimo de vencedores da tripla, Evenepoel - que já venceu Liège-Bastogne-Liège duas vezes - busca provar que seu retorno não é apenas simbólico, mas o início de uma nova fase ainda mais dominante de sua carreira.
O mundo do ciclismo aguarda com expectativa. As estradas sinuosas da Bélgica e Holanda estão prontas. Os dois protagonistas estão em forma. O palco está montado para o que pode ser um dos capítulos mais emocionantes da história recente do ciclismo.
A Tripla Coroa das Ardenas: Um Feito Histórico
As Clássicas das Ardenas representam um dos períodos mais desafiadores e prestigiados do calendário ciclístico mundial. Este tríptico de corridas, disputado nas regiões montanhosas da Bélgica e sul da Holanda, coloca à prova as habilidades mais completas dos ciclistas em terrenos que combinam distância, elevação e explosividade. Conquistar as três corridas na mesma temporada é um feito tão extraordinário que apenas dois ciclistas conseguiram realizá-lo em toda a história do esporte.
As Três Joias da Coroa
O tríptico das Ardenas é composto por três corridas distintas, cada uma com seu caráter único e desafios particulares:
Amstel Gold Race - Disputada na região de Limburgo, no sul da Holanda, esta corrida inaugurou-se em 1966 e é a mais jovem das três. Com um percurso sinuoso que serpenteia por dezenas de subidas curtas e íngremes, a Amstel é conhecida por seu final explosivo. Em 2025, a organização retornou ao formato clássico com a subida do Cauberg como ponto decisivo final, favorecendo ciclistas com capacidade de aceleração explosiva nas subidas curtas.
La Flèche Wallonne - Realizada na região da Valônia, na Bélgica, esta corrida tem como característica principal o temido Muro de Huy, uma subida com trechos que atingem 26% de inclinação. O vencedor é quase invariavelmente decidido nos últimos 200 metros desta subida brutal, onde apenas os mais explosivos conseguem prevalecer após mais de 200 quilómetros de corrida.
Liège-Bastogne-Liège - A mais antiga e prestigiada das três, conhecida como "La Doyenne" (A Decana), foi criada em 1892 e é uma das cinco "Monumentos" do ciclismo. Com 260 quilómetros e um perfil que inclui subidas longas e técnicas como La Redoute e La Roche-aux-Faucons, esta corrida favorece ciclistas completos, com resistência excepcional e capacidade de recuperação entre esforços intensos.
Os Únicos Conquistadores da Tripla
Em mais de meio século desde que as três corridas existem simultaneamente no calendário, apenas dois ciclistas conseguiram a proeza de vencer todas na mesma temporada:
Davide Rebellin (2004) - O italiano surpreendeu o mundo do ciclismo ao conquistar as três corridas em sequência, estabelecendo um marco que muitos consideravam impossível de ser igualado. Sua tripla vitória foi ainda mais impressionante considerando que derrotou especialistas em cada uma das provas.
Philippe Gilbert (2011) - O belga não apenas igualou o feito de Rebellin, como o superou ao vencer também a Brabantse Pijl na mesma temporada, completando o que ficou conhecido como a "quadrupla das Ardenas". Gilbert estava em um estado de forma tão extraordinário naquela primavera que parecia imbatível em qualquer terreno acidentado.
A Tentativa Frustrada de Pogačar
Em 2023, Tadej Pogačar parecia destinado a juntar-se a este clube exclusivo. Após dominar a Amstel Gold Race e La Flèche Wallonne com performances impressionantes, o esloveno chegou a Liège-Bastogne-Liège como o favorito incontestável. No entanto, o destino tinha outros planos. Uma queda durante a corrida resultou em uma fratura no pulso, não apenas encerrando sua tentativa da tripla, mas também comprometendo parte de sua temporada.
Ironicamente, foi Remco Evenepoel quem aproveitou a ausência de Pogačar para conquistar Liège-Bastogne-Liège pela segunda vez consecutiva, estabelecendo assim uma conexão narrativa que agora encontra seu clímax nesta temporada de 2025.
O Significado Histórico
Conquistar a tripla das Ardenas não é apenas uma questão de vencer três corridas importantes. É demonstrar uma versatilidade e consistência extraordinárias em terrenos e distâncias variadas, mantendo o pico de forma durante um período de oito dias de competições intensas.
Para contextualizar a raridade deste feito, vale lembrar que lendas como Eddy Merckx, Bernard Hinault e mais recentemente ciclistas do calibre de Alejandro Valverde conseguiram vencer as três corridas durante suas carreiras, mas nunca na mesma temporada.
Quando Pogačar declarou que buscaria novamente a tripla em 2025, muitos consideraram que seria apenas uma questão de tempo até que o esloveno completasse este feito histórico. O que ninguém esperava era que Remco Evenepoel retornaria de uma lesão grave com a forma e a determinação para transformar esta busca em um dos duelos mais aguardados da história recente do ciclismo.
Tadej Pogačar: O Dominador em Busca da História
No panteão do ciclismo moderno, poucos nomes evocam o mesmo sentimento de admiração e inevitabilidade que Tadej Pogačar. O esloveno de 26 anos transcendeu há muito as expectativas normais do que um ciclista pode alcançar, estabelecendo-se como uma força da natureza que redefine os limites do esporte a cada temporada. Agora, nas colinas das Ardenas, ele busca adicionar mais um capítulo extraordinário à sua já lendária carreira.
O Fenômeno que Desafia Comparações
Quando Remco Evenepoel afirma que Pogačar "é provavelmente o melhor ciclista desde Merckx", não se trata de hipérbole ou cortesia entre rivais. É um reconhecimento factual do que o esloveno tem conseguido realizar. Desde que explodiu no cenário mundial com sua vitória surpreendente no Tour de France de 2020, Pogačar tem acumulado triunfos com uma consistência e versatilidade que desafiam a lógica do ciclismo moderno.
A comparação com Eddy Merckx, o lendário "Canibal" que dominava todas as facetas do ciclismo nas décadas de 1960 e 1970, era considerada sacrilégio até recentemente. No entanto, a capacidade de Pogačar de vencer em praticamente qualquer terreno - das montanhas mais íngremes às clássicas mais técnicas - tem tornado essa comparação cada vez mais válida.
A Temporada de Clássicas Sem Precedentes
O que torna a busca de Pogačar pela tripla das Ardenas ainda mais extraordinária é o contexto em que ela ocorre. Na primavera de 2025, o esloveno já demonstrou uma forma física e mental que poucos ciclistas na história conseguiram atingir.
Sua temporada de clássicas começou com uma exibição dominante na Milão-San Remo, onde atacou no Poggio e manteve uma vantagem até a linha de chegada, conquistando assim seu terceiro "Monumento" diferente. Seguiu-se uma performance igualmente impressionante na Tour de Flanders, onde apenas Mathieu van der Poel conseguiu acompanhá-lo, numa batalha épica que terminou com o esloveno erguendo os braços em triunfo.
Talvez o mais surpreendente tenha sido sua estreia no Paris-Roubaix, a "Rainha das Clássicas" conhecida por seu pavé brutal. Enquanto a maioria dos campeões do Tour de France evita esta corrida implacável, Pogačar não apenas participou como foi protagonista, demonstrando uma adaptabilidade que desafia a especialização típica do ciclismo moderno.
Esta sequência de performances já seria suficiente para definir a temporada de qualquer ciclista. Para Pogačar, é apenas o prelúdio para o que ele realmente ambiciona: a tripla histórica das Ardenas.
As Ardenas: O Terreno Perfeito para o Esloveno
Se existe um terreno que parece desenhado para maximizar as qualidades de Pogačar, são as colinas das Ardenas. As subidas curtas e íngremes, que exigem explosividade, resistência e recuperação rápida entre esforços, são precisamente o tipo de desafio em que o esloveno prospera.
Em 2023, ele já havia demonstrado sua afinidade com estas corridas ao vencer tanto a Amstel Gold Race quanto La Flèche Wallonne de forma dominante. Apenas a queda e consequente fratura no pulso em Liège-Bastogne-Liège o impediram de completar a tripla naquele ano.
O retorno do Cauberg como subida final na Amstel Gold Race de 2025 parece um presente para Pogačar, cuja capacidade de acelerar em subidas curtas e íngremes é praticamente inigualável no pelotão atual. Da mesma forma, o Muro de Huy em La Flèche Wallonne, com seus trechos de até 26% de inclinação, é o palco perfeito para suas explosões características.
Quanto a Liège-Bastogne-Liège, a corrida mais longa e desgastante das três, Pogačar já demonstrou que sua resistência excepcional o torna ainda mais perigoso quando a distância ultrapassa os 250 quilómetros. As subidas emblemáticas de La Redoute e La Roche-aux-Faucons são precisamente o tipo de terreno onde ele costuma fazer a diferença.
A Busca pela Imortalidade
Para Pogačar, conquistar a tripla das Ardenas não seria apenas mais um item em seu já impressionante currículo. Seria a confirmação definitiva de que estamos diante de um ciclista que transcende gerações, capaz de feitos que apenas os maiores da história conseguiram realizar.
Ao ser questionado sobre sua busca pela tripla, Pogačar mantém a humildade característica: "Estou apenas focado em dar o meu melhor em cada corrida. Se vier a tripla, será incrível, mas sei que há muitos fatores envolvidos e adversários de alto nível."
Esta modéstia, no entanto, contrasta com a determinação visível em seus olhos. Pogačar sabe que está no auge de sua carreira, com uma equipe UAE Team Emirates totalmente dedicada a seus objetivos e uma forma física excepcional. Se existe um momento para alcançar este feito histórico, é agora.
A questão que paira no ar, e que adiciona uma camada extra de dramatismo a esta narrativa, é se o retorno surpreendente de Remco Evenepoel será suficiente para frustrar os planos do esloveno. O duelo entre estes dois titãs promete transformar as colinas das Ardenas no epicentro do ciclismo mundial durante a próxima semana.
Remco Evenepoel: O Retorno do Campeão Olímpico
Quando Remco Evenepoel cruzou a linha de chegada na Brabantse Pijl na sexta-feira passada, braços erguidos em triunfo após derrotar Wout van Aert no sprint, não foi apenas mais uma vitória em sua já impressionante carreira. Foi uma declaração poderosa ao mundo do ciclismo: o campeão olímpico está de volta, e não veio apenas para participar.
188 Dias de Provação
A jornada que trouxe Evenepoel de volta às competições é tão extraordinária quanto sua performance na pista. Em dezembro de 2024, enquanto treinava nas estradas belgas, o ciclista viveu um pesadelo quando foi atingido por uma porta de carro que se abriu repentinamente à sua frente. O impacto foi devastador: ombro destruído, múltiplas fraturas nas costelas, contusões pulmonares e outras lesões que ameaçaram não apenas sua temporada de 2025, mas potencialmente sua carreira.
"Foi uma recuperação brutalmente difícil, tanto mental quanto física", confessou Evenepoel após sua vitória na Brabantse Pijl. Durante 188 dias - quase meio ano - o belga não colocou um número de competição nas costas. Enquanto o mundo do ciclismo seguia seu curso, com Pogačar dominando as clássicas da primavera, Evenepoel travava sua própria batalha longe dos holofotes, em sessões de fisioterapia extenuantes e treinos cuidadosamente planejados para reconstruir seu corpo sem comprometer a recuperação.
O que torna seu retorno ainda mais impressionante é a qualidade com que voltou. Não houve período de readaptação, não houve corridas "para ganhar ritmo". Evenepoel simplesmente reapareceu no pelotão e imediatamente se estabeleceu como o homem a ser batido, como se os seis meses de ausência tivessem sido apenas um breve intervalo.
O Especialista de Liège
Se existe uma corrida nas Ardenas que tem o nome de Evenepoel gravado, é Liège-Bastogne-Liège. Em apenas duas participações na "Decana", o belga conquistou duas vitórias impressionantes, estabelecendo-se como um especialista neste percurso exigente de 260 quilômetros.
Sua primeira vitória em 2022 foi um marco em sua carreira, confirmando seu potencial como corredor de clássicas apesar de sua especialidade em provas por etapas. A segunda vitória, em 2023, veio em circunstâncias ainda mais significativas - aproveitando a ausência de Pogačar, que havia caído e fraturado o pulso durante a corrida.
Esta conexão narrativa entre os dois campeões - com Evenepoel "herdando" a vitória que poderia ter completado a tripla histórica de Pogačar - adiciona uma camada extra de dramatismo ao confronto que se aproxima. O belga sabe que, para muitos observadores, sua vitória em 2023 veio com um asterisco devido à queda do esloveno. Agora, ele tem a oportunidade de provar que pode derrotar Pogačar em um confronto direto.
A Estreia na Amstel Gold Race
Um dos elementos mais intrigantes deste confronto é que Evenepoel fará sua estreia na Amstel Gold Race neste domingo. Enquanto Pogačar já demonstrou sua afinidade com o percurso holandês, o território é desconhecido para o belga.
"A Amstel é um pouco mais longa, então será uma corrida diferente. Terei que me esconder um pouco mais e apenas ser inteligente. Será diferente taticamente, e com um pelotão diferente também", comentou Evenepoel após sua vitória na Brabantse Pijl.
No entanto, o retorno do Cauberg como subida final pode favorecer as características explosivas de Evenepoel. Sua capacidade de produzir ataques devastadores em subidas curtas e íngremes é bem conhecida, e o formato da corrida não é tão diferente da Brabantse Pijl onde ele acaba de triunfar.
O Duelo Psicológico
Além do confronto físico nas estradas, existe uma fascinante batalha psicológica se desenvolvendo entre os dois campeões. As declarações de Evenepoel após sua vitória na Brabantse Pijl revelam um profundo respeito por Pogačar, mas também uma determinação inabalável de desafiá-lo.
"Ele é provavelmente o melhor ciclista desde Merckx, então cabe a nós caçar essa posição", afirmou o belga, em uma frase que resume perfeitamente sua mentalidade. Evenepoel não está apenas reconhecendo a grandeza de seu rival - está declarando abertamente sua intenção de usurpar o trono.
Esta dinâmica é ainda mais interessante quando lembramos que seu último confronto direto foi em Il Lombardia em outubro passado, quando Pogačar produziu uma exibição dominante, atacando no Colma di Sormano e vencendo com uma margem impressionante de 3:15 sobre Evenepoel, que terminou em segundo.
Aquela derrota contundente certamente permanece na memória do belga, servindo como combustível adicional para sua motivação. "É inspirador assistir [Pogačar] correr, mas também tenho que manter em mente que ele é um competidor na bicicleta com uma camisa diferente e preciso tentar vencê-lo, o que é, claro, muito difícil", reconheceu Evenepoel.
A Equipe por Trás do Campeão
Um fator crucial neste confronto será o apoio que cada líder receberá de sua equipe. A Soudal Quick-Step de Evenepoel, embora não tenha a mesma profundidade de talentos que a UAE Team Emirates de Pogačar, é uma equipe especializada em clássicas com décadas de experiência tática nestas corridas.
O "Lobo da Flandres", como a equipe é conhecida, tem uma tradição de excelência nas clássicas belgas, e seu conhecimento das estradas locais pode ser um trunfo valioso. Além disso, a equipe estará extremamente motivada pelo retorno triunfal de seu líder, criando um ambiente de confiança que pode fazer a diferença em momentos críticos das corridas.
"Depois de hoje, todos estarão olhando para Tadej e para mim", observou Evenepoel. "E junto com a UAE, haverá um pouco mais de pressão para controlar, mas não temos medo disso. É assim que gostamos de correr."
Esta declaração revela não apenas confiança, mas também uma disposição para compartilhar a responsabilidade de animar as corridas - um contraste interessante com a abordagem mais conservadora que muitas equipes adotam quando enfrentam um favorito dominante como Pogačar.
A Batalha Tática nas Colinas
O confronto entre Tadej Pogačar e Remco Evenepoel nas Ardenas não será apenas um duelo de força bruta, mas uma complexa partida de xadrez disputada a 40 km/h nas colinas sinuosas da Bélgica e Holanda. Cada uma das três corridas apresenta características únicas que influenciarão diretamente as táticas empregadas pelos dois protagonistas e suas equipes.
Amstel Gold Race: O Labirinto Holandês
A primeira batalha ocorrerá neste domingo no sul da Holanda, em um percurso que mais parece um labirinto com suas dezenas de subidas curtas e estradas estreitas. O retorno do Cauberg como subida final em 2025 transforma completamente a dinâmica da corrida.
Para Pogačar, a estratégia provavelmente será similar à que utilizou em 2023: controle total através de sua equipe UAE Team Emirates até as subidas decisivas, seguido por um ataque explosivo que poucos conseguem acompanhar. O esloveno tem demonstrado preferência por ataques de longa distância, muitas vezes a mais de 30 quilômetros da chegada, confiando em sua capacidade de manter um ritmo elevado por períodos prolongados.
Evenepoel, por outro lado, enfrenta o desafio de correr em território desconhecido. "Terei que me esconder um pouco mais e apenas ser inteligente", admitiu o belga. Sua equipe Soudal Quick-Step provavelmente adotará uma abordagem mais conservadora, protegendo seu líder para os momentos decisivos. A explosividade de Evenepoel no Cauberg pode ser sua maior arma, especialmente se conseguir chegar fresco ao pé da subida final.
Um fator crucial será o posicionamento antes das subidas decisivas. As estradas estreitas da Amstel Gold Race são notórias por criar "engarrafamentos" no pelotão, e estar nas primeiras posições antes de cada subida pode fazer toda a diferença. Aqui, a experiência da equipe de Evenepoel nas clássicas pode ser uma vantagem significativa.
La Flèche Wallonne: O Duelo no Muro
A segunda corrida do tríptico é talvez a mais previsível em termos de final, mas não menos emocionante por isso. Tudo se resume aos últimos 200 metros do infame Muro de Huy, uma subida com trechos que atingem 26% de inclinação.
Pogačar demonstrou em 2023 sua capacidade de dominar esta subida brutal, com um timing perfeito em seu ataque final. A chave para o esloveno será novamente chegar em posição ideal ao pé do Muro na última passagem, algo que sua equipe UAE Team Emirates tem se especializado em garantir.
Para Evenepoel, La Flèche Wallonne representa um desafio particular. Apesar de sua explosividade, o belga tradicionalmente prefere esforços mais longos e sustentados do que o sprint de potência necessário no Muro de Huy. Uma estratégia possível seria tentar antecipar o movimento, atacando antes da subida final para evitar o confronto direto nas rampas mais íngremes.
O diretor esportivo da Soudal Quick-Step, Tom Steels, comentou: "La Flèche é uma corrida onde o posicionamento é tudo. Remco terá que estar perfeitamente colocado no pé do Muro, e então é uma questão de timing e potência pura."
Liège-Bastogne-Liège: A Maratona Decisiva
A "Decana" representa o clímax deste confronto épico. Com 260 quilômetros e um perfil que inclui subidas emblemáticas como La Redoute e La Roche-aux-Faucons, Liège-Bastogne-Liège é uma verdadeira maratona que testa todos os aspectos de um ciclista.
Aqui, Evenepoel estará em seu território preferido. Suas duas vitórias anteriores nesta corrida foram conquistadas com ataques de longa distância, aproveitando sua capacidade de manter potências elevadas por períodos prolongados. "Sou o tipo de cara que pode sofrer um pouco mais em uma corrida do que em treinamento", revelou o belga, uma qualidade essencial para uma prova tão exigente.
Pogačar, por sua vez, terá que lidar com o desgaste acumulado das duas corridas anteriores, além do esforço monumental de seu calendário de primavera. A questão que paira no ar é se o esloveno finalmente mostrará sinais de fadiga após meses de performances sobre-humanas.
A subida de La Redoute, a cerca de 35 quilômetros da chegada, tem sido historicamente o ponto onde Evenepoel lança seus ataques decisivos. Pogačar, no entanto, pode preferir esperar até La Roche-aux-Faucons, a última dificuldade significativa, para fazer sua jogada.
O Papel das Equipes
Um aspecto frequentemente subestimado nestas batalhas de titãs é o papel crucial das equipes. A UAE Team Emirates de Pogačar tem demonstrado uma força coletiva impressionante, com corredores como Marc Hirschi, Adam Yates e João Almeida capazes de controlar corridas inteiras antes de seu líder dar o golpe final.
A Soudal Quick-Step de Evenepoel, embora talvez não tenha a mesma profundidade de escaladores, compensa com sua vasta experiência tática nas clássicas. Corredores como Julian Alaphilippe, ex-campeão mundial, podem ser peças-chave para criar situações táticas favoráveis ao belga.
"Depois de hoje, todos estarão olhando para Tadej e para mim", observou Evenepoel após sua vitória na Brabantse Pijl. "E junto com a UAE, haverá um pouco mais de pressão para controlar, mas não temos medo disso. É assim que gostamos de correr."
Esta declaração sugere que podemos esperar uma abordagem agressiva da equipe belga, possivelmente enviando corredores em fugas antecipadas para forçar a UAE Team Emirates a trabalhar desde cedo, potencialmente desgastando seus efetivos antes dos momentos decisivos.
O Fator Clima
Nas Ardenas, o clima é sempre um protagonista imprevisível. Chuva, vento e temperaturas baixas podem transformar completamente o caráter destas corridas, favorecendo ciclistas com habilidades técnicas superiores nas descidas molhadas e resistência adicional ao frio.
Historicamente, Evenepoel tem demonstrado boa adaptabilidade a condições adversas, enquanto Pogačar parece igualmente confortável em qualquer clima, como demonstrou em sua vitória no Tour de France de 2021 sob chuva intensa.
As previsões meteorológicas para a semana das Ardenas indicam condições variáveis, com possibilidade de chuva especialmente para Liège-Bastogne-Liège, o que poderia adicionar uma camada extra de dramatismo e imprevisibilidade ao confronto final.
Além da Tripla: Implicações para o Tour de France
O confronto entre Tadej Pogačar e Remco Evenepoel nas colinas das Ardenas transcende o significado imediato destas três clássicas. Para além da busca pela tripla histórica, este duelo representa um prelúdio fascinante para o que pode ser a grande batalha do Tour de France 2025, onde ambos os ciclistas são apontados como os principais favoritos.
O Teste Psicológico
No ciclismo de alto nível, o aspecto psicológico é tão importante quanto o físico. Estabelecer dominância sobre um rival direto em confrontos anteriores pode criar uma vantagem mental significativa quando se encontram novamente em competições futuras.
Para Pogačar, que já possui três títulos do Tour de France, confirmar sua superioridade sobre Evenepoel nas Ardenas seria uma forma de estabelecer uma hierarquia clara antes da Grande Boucle. O esloveno tem cultivado uma aura de invencibilidade que intimida adversários antes mesmo da partida, e manter essa imagem intacta é parte crucial de sua estratégia psicológica.
Evenepoel, por outro lado, tem a oportunidade de ouro para quebrar essa aura. Uma vitória sobre Pogačar, especialmente em Liège-Bastogne-Liège onde ambos são especialistas, enviaria uma mensagem poderosa: o campeão olímpico não apenas retornou, mas está pronto para desafiar o domínio do esloveno em todos os terrenos.
"É inspirador assistir [Pogačar] correr, mas também tenho que manter em mente que ele é um competidor na bicicleta com uma camisa diferente e preciso tentar vencê-lo", afirmou Evenepoel, revelando sua mentalidade de desafiante determinado.
O Teste Físico
As Ardenas também oferecerão insights valiosos sobre a condição física de ambos os ciclistas em um momento crucial da temporada. Para Pogačar, que já acumula um calendário intenso desde janeiro, a questão é se conseguirá manter seu nível extraordinário por tanto tempo sem mostrar sinais de fadiga.
O esloveno tem demonstrado uma capacidade quase sobrenatural de recuperação entre esforços, mas a tripla das Ardenas, especialmente após suas participações em Milão-San Remo, Volta à Flandres e Paris-Roubaix, representa um teste sem precedentes para seus limites físicos.
Para Evenepoel, o desafio é diferente. Após 188 dias sem competir, o belga precisa confirmar que sua forma física está realmente no nível necessário para desafiar não apenas Pogačar, mas também o Tour de France. Sua vitória na Brabantse Pijl foi impressionante, mas as três clássicas das Ardenas, com suas distâncias maiores e campos mais competitivos, serão um teste muito mais rigoroso.
"Sou o tipo de cara que pode sofrer um pouco mais em uma corrida do que em treinamento", revelou Evenepoel, uma qualidade que será crucial tanto nas Ardenas quanto no Tour.
Testando Estratégias e Equipamentos
Outro aspecto frequentemente subestimado destes confrontos pré-Tour é a oportunidade de testar estratégias, equipamentos e configurações que podem ser cruciais em julho.
As equipes utilizam estas corridas para avaliar a eficácia de diferentes abordagens táticas, a performance de novos equipamentos em condições de corrida real, e até mesmo para experimentar com nutrição e hidratação - elementos que podem fazer a diferença em uma grande volta de três semanas.
Para a UAE Team Emirates e a Soudal Quick-Step, as Ardenas representam uma das últimas oportunidades de testar seus líderes em corridas de um dia de alto nível antes do foco total se voltar para o Tour de France.
A Caça ao Trono
Quando Evenepoel declarou que Pogačar "é provavelmente o melhor ciclista desde Merckx" e que "cabe a nós caçar essa posição", ele não estava apenas falando sobre as clássicas das Ardenas. Era uma declaração de intenções para toda a temporada, com o Tour de France como objetivo principal.
O belga, que já conquistou a Vuelta a España e o Giro d'Italia, tem no Tour de France o último grande objetivo para completar sua coleção de grandes voltas. Para alcançá-lo, sabe que precisará superar Pogačar, o dominador incontestável das últimas temporadas.
Esta "caça ao trono" mencionada por Evenepoel é uma narrativa que transcende as corridas individuais e define toda uma era do ciclismo. Estamos testemunhando o nascimento de uma rivalidade que pode moldar o esporte pelos próximos anos, similar ao que vivemos com Coppi e Bartali, Anquetil e Poulidor, ou mais recentemente, Armstrong e Ullrich.
A Preparação Ideal
Historicamente, as clássicas das Ardenas têm servido como indicadores confiáveis da forma de ciclistas que visam o Tour de France. A combinação de distância, elevação e intensidade nestas corridas cria demandas físicas que se assemelham às etapas mais desafiadoras da Grande Boucle.
Vencedores recentes do Tour como Pogačar e Jonas Vingegaard têm incluído as Ardenas em sua preparação, reconhecendo o valor destas corridas como blocos de treinamento de alta qualidade em condições de competição real.
Para Evenepoel, que ainda busca a fórmula ideal de preparação para o Tour, as Ardenas representam um teste crucial de sua abordagem renovada após a lesão. O belga tem trabalhado intensamente com sua equipe para desenvolver um plano que o leve ao pico de forma em julho, e estas três corridas oferecerão dados valiosos sobre a eficácia desse plano.
Quando a batalha nas Ardenas terminar no próximo domingo em Liège, os olhares já estarão voltados para o que vem a seguir. Independentemente do resultado, este confronto entre Pogačar e Evenepoel terá estabelecido as bases para o que promete ser um dos Tours de France mais aguardados dos últimos anos.
Outros Protagonistas
Embora o foco principal das clássicas das Ardenas de 2025 esteja no duelo épico entre Tadej Pogačar e Remco Evenepoel, seria um erro considerar estas corridas como uma batalha exclusiva entre dois homens. O pelotão está repleto de talentos extraordinários que podem não apenas interferir na luta pela tripla histórica, mas potencialmente reivindicar vitórias por mérito próprio.
Wout van Aert: O Terceiro Elemento
O belga Wout van Aert emerge como uma figura particularmente intrigante neste cenário. Após seu duelo intenso com Evenepoel na Brabantse Pijl, onde terminou em segundo lugar por margem estreita, Van Aert demonstrou estar em excelente forma física apesar de sua própria recuperação de lesões sofridas no início da temporada.
Van Aert possui o perfil ideal para brilhar especialmente na Amstel Gold Race, onde sua combinação de potência, resistência e sprint final já o colocou no pódio em edições anteriores. Sua equipe Visma-Lease a Bike tradicionalmente apresenta uma estratégia agressiva nestas corridas, frequentemente colocando múltiplos corredores em posições avançadas para criar situações táticas complexas.
"Estou satisfeito com minha forma atual, mesmo que a vitória tenha escapado na Brabantse Pijl", comentou Van Aert. "Nas Ardenas, especialmente na Amstel, o percurso se adapta bem às minhas características. Obviamente, Pogačar e Evenepoel são os grandes favoritos, mas isso pode jogar a meu favor, removendo parte da pressão."
A presença de Van Aert adiciona uma dimensão tática fascinante ao duelo principal. Como compatriota de Evenepoel mas sem alianças de equipe, sua corrida pode influenciar decisivamente o equilíbrio de forças entre os dois protagonistas principais.
Tom Pidcock: O Especialista Técnico
O britânico Tom Pidcock, campeão olímpico de mountain bike, traz um conjunto de habilidades único para as clássicas das Ardenas. Sua técnica excepcional em descidas e capacidade de manobrar em estradas estreitas o tornam particularmente perigoso em corridas como a Amstel Gold Race, onde venceu em 2022.
Representando a INEOS Grenadiers, Pidcock tem demonstrado uma afinidade especial com estas corridas técnicas e explosivas. Sua vitória na Strade Bianche no início desta temporada confirmou que está em excelente forma, e seu estilo de corrida imprevisível pode desestabilizar até mesmo os planos mais bem elaborados de Pogačar e Evenepoel.
"As Ardenas sempre foram um objetivo principal para mim", afirmou Pidcock. "Sei que todos estão falando sobre Pogačar e Evenepoel, e com razão, mas isso me permite voar um pouco abaixo do radar. Às vezes, quando dois grandes favoritos se marcam mutuamente, surge uma oportunidade para um terceiro."
Mathieu van der Poel: O Campeão Mundial
Embora tenha anunciado que não participará de Liège-Bastogne-Liège, focando apenas na Amstel Gold Race, o campeão mundial Mathieu van der Poel não pode ser desconsiderado. O holandês, que já protagonizou duelos épicos com Pogačar nas clássicas anteriores desta temporada, tem uma relação especial com a Amstel, corrida que quase venceu em 2019 em uma das finalizações mais dramáticas da história recente do ciclismo.
Representando a Alpecin-Deceuninck, Van der Poel traz o prestígio das cores do arco-íris e uma capacidade única de produzir ataques explosivos quando menos se espera. Sua presença na Amstel Gold Race adiciona uma camada extra de imprevisibilidade e espetáculo ao início do tríptico das Ardenas.
"A Amstel é uma corrida que sempre quis vencer, especialmente depois de 2019", comentou Van der Poel. "Será minha última corrida de primavera antes de um período de descanso, então estou determinado a terminar esta fase da temporada com uma nota alta."
A Nova Geração
Além dos nomes estabelecidos, uma nova geração de talentos está emergindo, ansiosa para deixar sua marca nas Ardenas. Ciclistas como o espanhol Juan Ayuso (UAE Team Emirates), o belga Maxim Van Gils (Lotto Dstny) e o britânico Joe Blackmore (Israel-Premier Tech) - que impressionou na Brabantse Pijl sendo o último a resistir aos ataques de Evenepoel e Van Aert - representam o futuro destas clássicas.
Particularmente interessante é o caso de Ayuso, companheiro de equipe de Pogačar, que pode desempenhar um papel crucial na estratégia da UAE Team Emirates. Com apenas 22 anos, o espanhol já demonstrou capacidades excepcionais em terrenos acidentados e poderia ser utilizado como um "ataque antecipado" para forçar outras equipes a trabalhar, preservando as energias de Pogačar para os momentos decisivos.
As Lendas Experientes
No outro extremo do espectro etário, veteranos como o espanhol Alejandro Valverde (agora em função de mentor na Movistar Team) e o francês Julian Alaphilippe (Soudal Quick-Step) trazem uma riqueza de experiência nestas corridas.
Alaphilippe, em particular, como companheiro de equipe de Evenepoel, pode desempenhar um papel crucial na estratégia da Soudal Quick-Step. O duas vezes campeão mundial conhece cada curva e subida das Ardenas, tendo vencido tanto a Flèche Wallonne (cinco vezes) quanto a Liège-Bastogne-Liège. Sua capacidade de criar situações táticas favoráveis para Evenepoel será inestimável.
"Estou aqui para apoiar Remco", declarou Alaphilippe. "Ele está em forma incrível e merece todo o apoio da equipe. Se surgir uma oportunidade para mim, claro que tentarei aproveitá-la, mas o objetivo principal é garantir que tenhamos as melhores chances possíveis de vencer com nosso líder."
O Fator Surpresa
A história das clássicas das Ardenas está repleta de vitórias surpreendentes, onde corredores menos cotados aproveitaram a marcação mútua entre os favoritos para triunfar. Nomes como o dinamarquês Michael Valgren, o holandês Wout Poels ou o italiano Enrico Gasparotto surpreenderam o mundo do ciclismo com vitórias nestas corridas na última década.
Em 2025, ciclistas como o francês Valentin Madouas (Groupama-FDJ), o belga Dylan Teuns (Israel-Premier Tech) ou o italiano Andrea Bagioli (Lidl-Trek) poderiam perfeitamente desempenhar este papel de azarão vitorioso.
A presença destes múltiplos protagonistas garante que, mesmo com toda a atenção voltada para o duelo Pogačar-Evenepoel, as clássicas das Ardenas manterão sua característica essencial de imprevisibilidade e emoção até os metros finais.
No mundo do ciclismo profissional, raramente temos o privilégio de testemunhar o nascimento de uma rivalidade que promete definir uma era. O confronto iminente entre Tadej Pogačar e Remco Evenepoel nas colinas das Ardenas representa exatamente esse momento histórico – o encontro de dois talentos geracionais, cada um no auge de suas capacidades, lutando não apenas por vitórias imediatas, mas pelo direito de serem chamados de melhor ciclista do mundo.
Um Duelo de Proporções Históricas
O que torna este confronto particularmente especial é o contexto em que ocorre. Pogačar, o campeão mundial, busca um feito alcançado apenas duas vezes na história: a tripla coroa das Ardenas. Evenepoel, o campeão olímpico, retorna triunfalmente após uma recuperação quase milagrosa de lesões graves. Os dois carregam os símbolos máximos do ciclismo mundial – o arco-íris e o ouro olímpico – criando uma simetria poética que transcende o esporte.
As declarações de Evenepoel após sua vitória na Brabantse Pijl capturam perfeitamente a essência deste momento: "Ele é provavelmente o melhor ciclista desde Merckx, então cabe a nós caçar essa posição." Esta não é apenas uma batalha por vitórias em corridas específicas, mas uma disputa pelo trono do ciclismo mundial, pelo direito de ser mencionado ao lado de lendas como Eddy Merckx, Bernard Hinault e Fausto Coppi.
Legado em Construção
Independentemente do resultado nas três corridas das Ardenas, estamos testemunhando a construção de legados que serão lembrados por décadas. Para Pogačar, completar a tripla histórica seria mais um capítulo extraordinário em uma carreira que já desafia os limites do que considerávamos possível no ciclismo moderno. Para Evenepoel, impedir essa tripla e potencialmente conquistar vitórias próprias seria a confirmação definitiva de seu retorno e de sua capacidade de desafiar o dominador incontestável da atualidade.
O que torna este confronto ainda mais fascinante é que ambos os protagonistas estão apenas no início de suas carreiras. Pogačar, com 26 anos, e Evenepoel, com 25, têm potencialmente uma década de rivalidade pela frente. As batalhas nas Ardenas de 2025 podem ser apenas o primeiro capítulo de uma saga que definirá o ciclismo pelos próximos anos.
Um Espetáculo para os Fãs
Para os aficionados do ciclismo, este confronto representa um daqueles raros momentos em que o esporte transcende suas fronteiras habituais. As narrativas são tão ricas, os personagens tão carismáticos e as apostas tão altas que mesmo aqueles com conhecimento limitado do ciclismo podem ser capturados pela dramaticidade do momento.
As estradas sinuosas das Ardenas, com suas subidas íngremes e paisagens deslumbrantes, fornecerão o cenário perfeito para este drama esportivo. Cada ataque, cada resposta, cada momento de fraqueza será analisado e reinterpretado como parte de uma narrativa maior sobre quem realmente é o melhor ciclista desta geração.
Além da Rivalidade
É importante notar que, apesar da intensidade da competição, existe um respeito mútuo genuíno entre Pogačar e Evenepoel. Ambos reconhecem a grandeza um do outro e entendem que rivalidades como esta elevam o esporte a novos patamares.
"É inspirador assistir [Pogačar] correr", admitiu Evenepoel, revelando a admiração que existe mesmo entre competidores ferozes. Esta dimensão humana adiciona uma camada extra de riqueza à narrativa esportiva, lembrando-nos que por trás dos feitos sobre-humanos existem indivíduos que compartilham uma paixão comum pelo ciclismo.
O Início, Não o Fim
Quando o pelotão cruzar a linha de chegada em Liège no próximo domingo, independentemente de quem erguer os braços em triunfo, uma coisa é certa: não estaremos testemunhando o fim de uma história, mas apenas o início. As implicações deste confronto nas Ardenas se estenderão pelo restante da temporada, influenciando o Tour de France, os Campeonatos Mundiais e além.
A "caça ao trono" mencionada por Evenepoel continuará, assim como a determinação de Pogačar em defender sua posição no topo da hierarquia do ciclismo. E nós, os fãs, teremos o privilégio de testemunhar cada capítulo desta rivalidade extraordinária que promete redefinir os limites do que consideramos possível no ciclismo profissional.
As colinas das Ardenas aguardam. Os protagonistas estão prontos. A história está prestes a ser escrita.
Informações Práticas
Para os aficionados do ciclismo que desejam acompanhar este confronto histórico entre Tadej Pogačar e Remco Evenepoel nas Ardenas, apresentamos todas as informações práticas necessárias para não perder nenhum momento desta trilogia épica.
Calendário das Corridas
Amstel Gold Race
- Data: Domingo, 20 de abril de 2025
- Horário de largada: 10:45 (hora local)
- Distância: 253 quilômetros
- Partida: Maastricht, Holanda
- Chegada: Berg en Terblijt (topo do Cauberg), Holanda
- Número de subidas: 33
La Flèche Wallonne
- Data: Quarta-feira, 23 de abril de 2025
- Horário de largada: 11:30 (hora local)
- Distância: 202 quilômetros
- Partida: Charleroi, Bélgica
- Chegada: Muro de Huy, Bélgica
- Número de subidas: 11, com três passagens pelo Muro de Huy
Liège-Bastogne-Liège
- Data: Domingo, 27 de abril de 2025
- Horário de largada: 10:15 (hora local)
- Distância: 260 quilômetros
- Partida: Liège, Bélgica
- Chegada: Liège, Bélgica
- Subidas principais: Côte de La Redoute, Côte de la Roche-aux-Faucons
Onde Assistir
Televisão:
- Eurosport - cobertura completa das três corridas
- GCN+ - cobertura completa com comentários especializados
- Sporza (Bélgica) - cobertura nacional com foco especial em Evenepoel
- RTP2 (Portugal) - transmissão com comentários em português
- SporTV (Brasil) - transmissão com comentários em português brasileiro
Streaming:
- Eurosport Player - transmissão completa com múltiplas câmeras
- GCN+ - cobertura integral com opção de comentários em vários idiomas
- Discovery+ - plataforma que inclui a cobertura da Eurosport
- FloBikes - disponível em regiões selecionadas
Redes Sociais:
- Twitter/X: atualizações em tempo real através das contas oficiais @AmstelGoldRace, @flechewallonne e @LiegeBastogneL
- Instagram: bastidores e momentos-chave nas contas oficiais das corridas
- YouTube: resumos diários nos canais oficiais UCI e GCN
Perfil dos Percursos
Amstel Gold Race:
O percurso da Amstel Gold Race 2025 retorna ao formato clássico com o Cauberg como subida final. O traçado inclui 33 subidas curtas e íngremes distribuídas ao longo de 253 quilômetros, criando um desgaste acumulado significativo. As estradas estreitas e sinuosas da região de Limburgo exigem posicionamento perfeito e atenção constante. Pontos-chave incluem a sequência Kruisberg-Eyserbosweg-Keutenberg nos últimos 40 quilômetros, seguida pela subida final do Cauberg (900 metros com inclinação média de 7,5% e máxima de 12%).
La Flèche Wallonne:
Com 202 quilômetros, La Flèche Wallonne é a mais curta das três corridas, mas não menos desafiadora. O percurso inclui 11 subidas categorizadas, culminando com três passagens pelo infame Muro de Huy. Esta subida brutal de 1,3 quilômetros apresenta uma inclinação média de 9,6%, com seções que atingem impressionantes 26%. A última passagem pelo Muro determina invariavelmente o vencedor, com o timing do ataque final sendo crucial para o sucesso.
Liège-Bastogne-Liège:
A mais antiga e prestigiada das três, "La Doyenne" apresenta um percurso de 260 quilômetros com um perfil acidentado que inclui dez subidas categorizadas. Após o ponto de retorno em Bastogne, a intensidade aumenta progressivamente com a sequência de subidas na segunda metade da corrida. Os pontos decisivos tradicionalmente são a Côte de La Redoute (2 km a 8,9%) a 35 quilômetros da chegada e a Côte de la Roche-aux-Faucons (1,3 km a 11%) a 13 quilômetros do final, seguida por uma descida técnica e um trecho plano até a chegada em Liège.
Condições Meteorológicas Previstas
As previsões meteorológicas para a semana das Ardenas indicam condições variáveis que podem influenciar significativamente o desenvolvimento das corridas:
Amstel Gold Race (20 de abril):
- Temperatura: 14-18°C
- Condições: Parcialmente nublado com possibilidade de chuvas leves
- Vento: Noroeste, 15-20 km/h
La Flèche Wallonne (23 de abril):
- Temperatura: 12-16°C
- Condições: Nublado com períodos de sol
- Vento: Oeste, 10-15 km/h
Liège-Bastogne-Liège (27 de abril):
- Temperatura: 10-15°C
- Condições: Possibilidade de chuva moderada
- Vento: Sudoeste, 20-25 km/h
As condições potencialmente chuvosas para Liège-Bastogne-Liège podem adicionar uma camada extra de dificuldade e imprevisibilidade à corrida mais longa e exigente do tríptico.
Pontos de Visualização Recomendados para Espectadores
Para os fãs que planejam assistir às corridas pessoalmente, recomendamos os seguintes pontos estratégicos:
Amstel Gold Race:
- Cauberg (chegada) - Para testemunhar o momento decisivo
- Eyserbosweg - Subida íngreme onde frequentemente ocorrem ataques importantes
- Valkenburg - Área central com múltiplas passagens do pelotão
La Flèche Wallonne:
- Muro de Huy (chegada) - O local mais emblemático, especialmente nos últimos 300 metros
- Côte d'Ereffe - Penúltima subida onde frequentemente se formam os grupos decisivos
Liège-Bastogne-Liège:
- La Redoute - A subida mais icônica da corrida, com atmosfera de festival
- Roche-aux-Faucons - A última subida significativa, frequentemente decisiva
- Chegada em Liège - Para testemunhar o final desta maratona de ciclismo
Independentemente de como você escolha acompanhar estas corridas históricas, prepare-se para uma semana de ciclismo do mais alto nível, com dois dos maiores talentos da atualidade disputando cada metro das estradas das Ardenas em busca da glória e da imortalidade esportiva.