Tadej Pogacar, aos 26 anos, é sinônimo de História no ciclismo. O esloveno está determinado a se tornar o maior de todos os tempos – colocando Eddy Merckx como parâmetro – ou, pelo menos, a se aproximar dessa marca. Sua versatilidade, estilo de corrida e impressionante palmarés já o colocam entre os maiores nomes da era contemporânea.
Vestindo o maillot arco-íris, Pogacar conquistou, pela segunda vez, o Tour de Flandres. Assim como Van der Poel havia feito no ano passado, a vitória veio acompanhada da sofisticação que ele deposita em seu currículo, que já conta com oito Monumentos.
Hoje, ele reina não só em Flandres, mas também no Giro, no Tour e em praticamente todas as grandes corridas. E já tem a Paris-Roubaix no horizonte – um evento que, no próximo domingo, atrairá a atenção de todo o mundo esportivo, muito além do universo do ciclismo.
Analisando o pódio final, com Pogacar à frente, seguido de Pedersen e Van der Poel, percebe-se que a lógica se confirmou: os três eram os nomes mais destacados e em melhor forma para este desafio. Embora se esperasse que Van der Poel ficasse à frente de Pedersen, a disputa foi intensa, sem pausa alguma. Segundo a Procyclingstats, com uma média de quase 45 km/h, esta foi a edição mais rápida já registrada – sendo a 109ª.
O segundo Monumento da temporada, com 269 km, apresentou 16 subidas e 7 trechos pavimentados com paralelepípedos – alguns com diversas fases – e a primeira metade da corrida transcorreu com uma calma relativa. Essa tranquilidade, porém, se quebrou aos 125 km, quando uma queda tirou vários ciclistas da disputa (inclusive alguns ajudantes de Pogacar) e prejudicou Van der Poel, que ficou ainda mais isolado.
Felizmente para o holandês, que, com três vitórias (empatado com outros seis ciclistas), não conseguiu se tornar o mais condecorado de Flandres – mesmo mantendo seis anos consecutivos no pódio – ele conseguiu se recuperar e reconquistar o terreno perdido. À frente, uma fuga de alto nível se formou, envolvendo grandes especialistas como Ganna, quando vários grupos se separaram do pelotão e da liderança.
Em outras ocasiões esse tipo de fuga pode render a vitória ou um lugar no pódio, mas enfrentando adversários de diferentes gerações, o desafio se torna quase intransponível. Pogacar se destacou como o atleta mais ativo, lançando várias investidas e organizando o grupo no momento em que sua equipe já havia dado o máximo de apoio ao líder.
A virada do jogo aconteceu na passagem pelo Koppenberg, um trecho íngreme que atinge 20% de inclinação, quando o campeão mundial liberou sua artilharia pesada. Nesse instante, a corrida se transformou completamente: os fugitivos foram sendo distanciados um a um e, após diversos trechos exigentes, a liderança ficou a cargo de Pogacar, seguido por Van der Poel, Pedersen, Van Aert e Stuyven – os melhores no papel para aquele dia, principalmente os quatro primeiros.
Todos os olhos se voltaram para Tadej, que já havia declarado anteriormente que não queria enfrentar Van der Poel no sprint final – uma estratégia lógica, comprovada recentemente na Milão-San Remo, pois sair para o sprint contra ele reduziria consideravelmente suas chances.
No horizonte surgia o Velho Kwaremont, o trecho onde Pogacar já havia consolidado sua vitória em 2023 – e que agora repetia o feito em 2025. Antes de atingir essa subida, Van Aert tentou atacar para ganhar alguns metros, mas Tadej tinha sua estratégia bem definida e mal se perturbou. Ao chegar a um dos trechos mais lendários do ciclismo, ele impôs um ritmo impossível de acompanhar.
Embora Van der Poel tenha tentado reagir – e não era para menos – o distanciamento se alargava: um metro, dois metros, três metros... enfim, a distância se tornou insuperável. Forçado a permanecer atrás e reconquistar terreno de forma segura, o holandês viu seu rival ampliar a vantagem no último obstáculo, o Paterberg, onde Tadej não apenas segurou, mas aumentou sua liderança em cerca de 30 segundos. O vento forte fez com que até Oudenaarde rodasse sozinho, acumulando mais segundos aos adversários – a vantagem final ultrapassou um minuto –, consolidando mais um grande triunfo.
De frente para a História, Pogacar encara no próximo domingo um dos maiores desafios de sua carreira na Paris-Roubaix – talvez o maior de todos. Mas antes disso, em Flandres, ele escreveu uma nova página de sucesso: o Rei. E, em destaque para os espanhóis, Iván García Cortina, da Movistar – sempre apaixonado pelos trechos de paralelepípedos – alcançou sua brilhante nona colocação, garantindo seu primeiro top-ten em um Monumento.
Resultado Final – Tour de Flandres
- 1º Tadej Pogacar (ESL/UAE) – 5h 58:41
- 2º Mads Pedersen (DIN/Lidl-Trek) – 1:01 atrás
- 3º Mathieu van der Poel (HOL/Alpecin) – mesmo tempo
- 4º Wout van Aert (BÉL/Visma) – mesmo tempo
- 5º Jasper Stuyven (BÉL/Lidl-Trek) – 1:04 atrás
- 6º Tiesj Benoot (BÉL/Visma) – 1:51 atrás
- 7º Stefan Küng (SUI/Groupama) – 1:53 atrás
- 8º Filippo Ganna (ITA/Ineos) – 2:19 atrás
- 9º Iván García Cortina (Movistar) – mesmo tempo
- 10º Davide Ballerini (ITA/Astana) – mesmo tempo