O ciclismo profissional está passando por uma transformação financeira sem precedentes. Um relatório exclusivo publicado pela La Gazzetta dello Sport revela que o WorldTour masculino está mais rico do que nunca, com salários e orçamentos alcançando patamares históricos em 2025.
O Novo Panorama Salarial do Ciclismo Mundial
A entrada de grandes patrocinadores e a crescente profissionalização do esporte estão elevando os salários na elite do ciclismo. O salário médio no WorldTour masculino agora é de aproximadamente €500.000 (US$530.000) por ano, representando um crescimento significativo em relação aos anos anteriores.
Dados oficiais da UCI (União Ciclística Internacional) analisados pela Gazzetta durante um seminário recente em Nice indicam que o salário médio masculino aumentou mais de 10% nesta pré-temporada. O valor de €449.000 em 2024 atingiu meio milhão de euros em 2025.
A Explosão dos Orçamentos das Equipes WorldTour
O crescimento salarial é sustentado pelo aumento expressivo dos orçamentos das equipes. O orçamento total do WorldTour masculino será de cerca de €570 milhões em 2025, representando €140 milhões a mais que em 2022 – um impressionante aumento de 33% em apenas três anos.
A chegada de grandes patrocinadores como Lidl, Decathlon e Red Bull impulsionou este investimento total. O orçamento médio das equipes, que foi de €28 milhões em 2024, subirá para €32 milhões no próximo ano. A gigante chinesa XDS também reforçará essa tendência ao ingressar no mercado com a equipe Astana-Qazaqstan em 2025.
Disparidade Salarial: De €44.150 a €8 Milhões
A média de €500.000 esconde uma realidade de extrema desigualdade. Este valor é irrisório em comparação com o salário anual de €8 milhões recebido por Tadej Pogačar, o ciclista mais bem pago do pelotão, cujo contrato é financiado pelos Emirados Árabes Unidos através da UAE Team Emirates.
Outros grandes nomes também recebem salários milionários:
- Jonas Vingegaard: Aproximadamente €4-5 milhões/ano (Visma-Lease a Bike)
- Remco Evenepoel: Cerca de €4 milhões/ano (Soudal Quick-Step)
- Primož Roglič: Estimado em €3-4 milhões/ano (Red Bull-Bora-Hansgrohe)
- Mathieu van der Poel: Aproximadamente €2,5 milhões/ano (Alpecin-Deceuninck)
Por outro lado, em 2025, o salário mínimo definido pela UCI para ciclistas do WorldTour masculino será de €44.150, valor que corresponde a menos de 10% da média salarial do pelotão. Para ciclistas neo-profissionais, o mínimo é ainda menor: €35.721.
O Abismo Entre Equipes Ricas e Pobres
O orçamento médio de €32 milhões não reflete a realidade de um WorldTour masculino cada vez mais dividido. Para cada UAE Emirates com €50-60 milhões ou Red Bull-Bora-Hansgrohe com €50 milhões, há uma Intermarché-Wanty lutando com apenas €14 milhões.
Diretores da equipe belga afirmaram recentemente ao HLN que 2024 foi “talvez o ano mais difícil” financeiramente. Um gregário da UAE Emirates, como Jay Vine ou Pavel Sivakov, seria um líder indiscutível em uma equipe com orçamento mais apertado.
Essa disparidade cruel está criando um abismo entre os “ricos” e “pobres” do pelotão. Não é coincidência que as equipes mais ricas – UAE Emirates, Visma-Lease a Bike, Red Bull-Bora-Hansgrohe – também sejam as mais bem-sucedidas.
“Para ganhar o Tour de France, você precisa de um orçamento de 50 a 60 milhões de euros. Se você quer assinar com ciclistas como Pogačar e Vingegaard e ter o suporte necessário, qualquer valor abaixo de €50 milhões não é suficiente.”
— Cedric Vasseur, Diretor da Cofidis
Orçamentos elevados garantem não apenas os melhores ciclistas, mas também equipes técnicas de elite, investimentos em campos de altitude, testes em túneis de vento e tecnologia de ponta – todos essenciais para vencer no mais alto nível.
Ciclismo Feminino: Crescimento Acelerado, Mas Ainda Desigual
Os salários no WorldTour feminino estão seguindo um padrão de crescimento semelhante ao do masculino, mas ainda há um grande abismo entre as remunerações. Os salários na categoria feminina estão atualmente em torno de €85.000 e continuam subindo, mas representam apenas 17% da média masculina.
O contrato de €1 milhão oferecido neste verão por UAE ADQ a Demi Vollering, antes de ela assinar com a FDJ-Suez, é considerado um marco histórico e representa o maior contrato já oferecido a uma ciclista feminina.
O ciclismo feminino está crescendo rapidamente graças ao compromisso contínuo de organizadores como ASO e patrocinadores como Zwift. Provas como o Tour de France Femmes e Paris-Roubaix Femmes estão colocando o ciclismo feminino no mapa esportivo global.
A Gazzetta afirma que o orçamento total do WorldTour feminino dobrou, atingindo €70 milhões desde 2022. No entanto, ainda há um longo caminho para reduzir a diferença de gênero – os €70 milhões representam apenas 12% dos €570 milhões do WorldTour masculino.
O salário mínimo para ciclistas do WorldTour feminino em 2025 será de €38.000, menos que o salário mínimo masculino, embora a UCI tenha planos de igualar esses valores nos próximos anos.
Ciclismo vs. Outros Esportes: Uma Realidade Modesta
A UCI está estudando um sistema de teto orçamentário para reduzir as desigualdades na sua principal liga de estrada. A Escape Collective relatou que a entidade está trabalhando com consultores da PwC para criar um quadro de justiça financeira.
Ainda assim, o ciclismo profissional permanece relativamente pobre no cenário esportivo global. Como disse recentemente o ex-ciclista Tejay van Garderen, os salários em esportes como Fórmula 1, futebol, NBA e NFL fazem os €8 milhões de Pogačar parecerem “trocados”.
Comparação com Outros Esportes de Elite
- NBA: Um salário anual de US$8 milhões é suficiente para remunerar um jogador reserva. Steph Curry, o jogador mais bem pago, recebe US$45 milhões anuais
- Fórmula 1: Max Verstappen ganha €53 milhões por temporada
- Futebol: Jogadores como Kevin de Bruyne e Erling Haaland, do Manchester City, recebem mais de €25 milhões cada
- NFL: Patrick Mahomes, astro do Kansas City Chiefs, ganha cerca de €43 milhões por ano com salário e bônus
Fatores Que Influenciam os Salários no Ciclismo
Diversos fatores determinam quanto um ciclista profissional pode ganhar:
1. Resultados e Palmarés
Vencer o Tour de France, conquistar monumentos como Paris-Roubaix ou Milano-Sanremo, ou acumular vitórias de etapa em Grandes Voltas pode multiplicar exponencialmente o valor de mercado de um ciclista. Chris Froome, por exemplo, começou na Sky Team com um salário de £80.000 por ano, mas após vencer o Tour de France, seu salário saltou para cerca de £4 milhões anuais.
2. Orçamento da Equipe
Equipes com orçamentos maiores podem pagar salários mais altos. A UAE Emirates, com seu orçamento de €50-60 milhões, pode oferecer €8 milhões a Pogačar, enquanto equipes com €15 milhões de orçamento mal conseguem pagar €100.000 a seus melhores corredores.
3. Patrocínios Pessoais
Os grandes nomes do ciclismo complementam seus salários com patrocínios pessoais substanciais. Pogačar, por exemplo, tem contratos com marcas como Colnago, POC, e outras empresas que podem adicionar milhões ao seu rendimento anual.
4. Prêmios de Corrida
Embora os prêmios de corrida sejam geralmente divididos entre toda a equipe, eles ainda representam uma fonte adicional de renda. O vencedor do Tour de France recebe €500.000 em prêmios, mas esse valor é tipicamente distribuído entre todos os membros da equipe.
Perspectivas para o Futuro do Ciclismo Profissional
O ciclismo profissional está em um momento de transformação. A entrada de patrocinadores globais como Red Bull e a crescente visibilidade de eventos como o Tour de France Femmes indicam um futuro promissor. No entanto, desafios significativos permanecem:
- Redução da Desigualdade: A UCI precisa encontrar soluções para equilibrar a competição entre equipes ricas e pobres
- Paridade de Gênero: Os salários femininos precisam continuar crescendo para atrair mais talento e investimento
- Sustentabilidade Financeira: Equipes menores precisam de apoio para sobreviver no ambiente cada vez mais caro do WorldTour
- Transparência Salarial: Maior abertura sobre salários poderia ajudar a profissionalizar ainda mais o esporte
Conclusão: Um Esporte em Evolução
O ciclismo profissional está ficando mais rico, com salários médios atingindo €500.000 e orçamentos de equipe alcançando €570 milhões no WorldTour masculino. No entanto, permanece uma “gota no oceano financeiro do esporte global” quando comparado a modalidades como futebol, basquete e Fórmula 1.
A desigualdade interna – entre ciclistas estrela e gregários, entre equipes ricas e pobres, e entre categorias masculina e feminina – representa o maior desafio para o futuro do esporte. Enquanto Tadej Pogačar ganha €8 milhões por ano, milhares de ciclistas profissionais mal conseguem cobrir suas despesas com o salário mínimo de €44.150.
O crescimento é inegável e promissor, mas para que o ciclismo atinja seu pleno potencial como esporte profissional de elite, a UCI e as partes interessadas precisarão trabalhar juntas para criar um ambiente mais equitativo e sustentável para todos os atletas, independentemente de gênero ou orçamento da equipe.
Fontes: La Gazzetta dello Sport, UCI, Escape Collective, CyclingNews

O criador desta plataforma é a prova de que experiência e inovação pedalam juntas. Fundador do Ciclismo pelo Mundo, ele transformou décadas de vivência sobre duas rodas em um dos portais mais respeitados do ciclismo nacional.
Mais que um site, construiu um ecossistema onde veteranos e iniciantes convergem em busca de evolução. Cada artigo, vídeo e análise carrega o DNA de quem não apenas pratica, mas vive e respira ciclismo há mais de duas décadas.
Do asfalto às trilhas, dos treinos básicos às estratégias avançadas, o portal traduz a linguagem complexa do esporte em conteúdo acessível e transformador. Um legado digital construído pedalada por pedalada, quilômetro por quilômetro.
Ciclismo Feminino Ciclismo Profissional Economia do Ciclismo Salários Ciclismo WorldTour
Last modified: 21 de outubro de 2025